Em 28 de outubro de 2018, o grupo santa-mariense Poços & Nuvens, um dos pioneiros do rock progressivo no Brasil, promoveu um evento gratuito dentro de um dos espaços mais interessantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) — o Planetário.
Inaugurado em 14 de Dezembro de 1971, o projeto arquitetônico da edificação é do arquiteto Oscar Valdetaro, a partir de um esboço de Oscar Niemayer. Quinto no Brasil, oitavo na América Latina, primeiro no Rio Grande do Sul e o primeiro Planetário numa cidade do interior brasileiro, o evento ainda colocou pela primeira vez uma banda de rock por lá. E no quesito de registro fonográfico, o feito da Poços é também inédito no país, pois o quinteto gravou seu novo álbum — "O Sol de Cada Um / Ao vivo no Planetário de Santa Maria" (2020), dentro de um espaço dedicado a apresentações sobre astronomia.
Aos que não conhecem um Planetário, trata-se de um sala de projeção circular que simula o céu, sobretudo noturno, de acordo com a data e local de observação. É constituído por uma abóbada ou cúpula e por uma máquina colocada no seu centro, que materializa os diferentes objetos celestes. O desafio foi adaptar esse local para um concerto de rock.
Foto: Reprodução
A apresentação no Planetário marcou o retorno da Poços & Nuvens com nova formação, com os mesmos músicos que já estavam no apoio da carreira solo de Gérson Werlang, líder e membro fundador da Poços em 1986. São eles — Vinicius Brum (baixo e voz de apoio), Fernando Perusso (teclados), Vivian Reis (violino e voz) e Pablo Castro (bateria e percussão), além do próprio Gérson (guitarra, bandolim, voz e efeitos).
Foto por Pablito Diego
O álbum atesta uma vocação do grupo em registros ao vivo, pois depois de "Live in Mexico" (gravado em 2004, no Baja Prog Festival, em Mexicali, Baja California, México) e "Clouds on the Road" (gravado em 2005, no Teatro Municipal de Niterói, no Rio de Janeiro) — CDs lançados em 2012, o terceiro álbum ao vivo da Poços & Nuvens propõe uma mescla do trabalho solo de Gérson Werlang com temas conhecidos da sua banda de origem, além de músicas inéditas ou versões estendidas, como no caso da tridimensional "Sagração do Outono".
Das 14 faixas do tracklist, as músicas de "Sistema Solar" (2015), o mais recente trabalho solo de Gérson, forjam a espinha dorsal de "O Sol de Cada Um", além de "Memórias do Tempo", faixa título de sua estreia individual em 2008. Esse repertório se amarra as já conhecidas peças do grupo. Entre os destaques da atual encarnação, ouça com atenção as vozes de Gérson e do baixista Vinicius, irmanadas nos refrãos e harmonizações. Antigos ases como "Vindima & Ventania" e "Balada Outonal", resgatam o sortilégio de qualidades fundamentais do grupo santa-mariense, entre elas — a atemporalidade. O tecladista Fernando Perusso traz a tona ambiências e climáticas do rock progressivo, assim como o violino de Vivian Reis é outro acento dessa personalidade. Como acontece nos arranjos sinfônicos, a versatilidade do baterista Pablo Castro controla os up and dows, o que alterna rigor e sutileza, no timing de cada virada ou mudança de humores.
Pelo conjunto da obra — a Poços & Nuvens certamente merece uma revisão histórica — e "O Sol de Cada Um — Ao vivo no Planetário da UFSM ", pode ser o pontapé inicial nessa recapitulação. Veja vídeo do resumo da matéria do jornalista Rodrigo Ricordi, publicada no Diário de Santa Maria (confira a matéria completa no site do jornal).
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